21 de maio de 2007

A falaciosa pureza petista e o bom governo do Lula

(14 de junho de 2005 - Publicado na Lista Democracia)


Caros amigos,

Este texto[1] vem em defesa do Governo Lula e apresenta uma proposta política.

Antes, porém, analiso o magro anteparo do PT na defesa do governo Lula. Isso porque sempre observei na minha militância estudantil e partidária que o PT não sabia defender de conteúdo e forma dialógica seus governos ou suas gestões nos movimentos sociais. O PT tinha e tem quadros voluntariosos politicamente e sérios em ideais, mas como sabiam fundamentalmente só atacar, eram e continuam sendo, na sua grande maioria, anêmicos em proteger suas atitudes políticas quando são vitimados.

É impressionante como eles ficam atordoados nessas situações de acosso da oposição. Além de apresentar uma comprovada carência dialógica nos embates, os petistas são atormentados por uma patrulha ideológico oriundo dos seus passados de característica onipotente. O que dificulta tremendamente entender o que significa valorar a confabulação, por lição usual do mundo da política, com seus aliados e a oposição.

Só que esse governo Lula tem números e situações de possibilidades políticas prodigiosas. Ganha, como se diz na gíria futebolística, de goleada o governo Fernando Henrique Cardoso em qualquer área de atuação. É extraordinariamente impressionante a diferença do escore dessa goleada. Uma breve comparação. Nas áreas sociais: é muito melhor que os tucanos nem tente entrar em campo, porque vai ser vexatória a goleada.

Por que então o PT não sabe defender o governo Lula? E por que vive em crise com sua governabilidade?

É isso que vou tentar responder. Como eu bem disse: tentar!

1- A FALACIOSA PUREZA PETISTA

Queria começar pela inditosa e melancólica frase do ministro Olívio Dutra ao Jornal Nacional da TV Globo: “O PT está pagando tudo por ter más companhias”. Essa compreensão de pureza petista do ministro é que desvirtua ainda o PT a não fazer uma autocrítica de conteúdo sobre sua história.

O PT nasce da sociedade civil, através de alguns pujantes movimentos sociais. Maiormente, o sindical. Além dele, incorporam-se quadros políticos dentro de outros movimentos sociais e dirigentes já aparados e oriundos do foquismo opaco de guerrilha urbana e rural dentro das cizânias das tendências políticas que romperam com o PCB nos anos 60 e 70 para inventar uma escolha delirante e imprudente pela luta armada.

Essa dita pureza petista oriunda da sociedade civil, proclamada pelo ministro Olívio Dutra, fez com que o PT passasse ao largo de projetos nacionais de súmula acuidade para construção e constituição do Estado de Direito Democrático nos anos 80 e 90 do século passado. Seus primeiros dirigentes optaram por uma “avantesma insurrecional” (Raimundo Faoro) contra a cultura do jogo político das representações parlamentares (mesmo que legitimadas pela aprovação popular) e, assim sendo, negou-se peremptoriamente a fazer cálculos aliancistas na transição pós-1979 da ditadura ao processo de redemocratização. Exemplos não faltam. Em 1984, recusaram-se em fazer uma aliança ampla com setores descontente do PDS (antiga ARENA) e com o PMDB nas Diretas Já. Participaram negando e discriminado a participação deles. No ano seguinte, em 1985, recusou-se a participar de uma configuração política ampla com o primeiro governo civil de Tancredo e Sarney. Depois tivemos a Constituinte que quase não assina. No 2º turno de 1989 não quis o apoio de Ulisses Guimarães (PMDB) e Aureliano Chaves (PFL). Como ainda não entendia a cultura da democracia representativa, criou um medonho governo paralelo no período Collor. Em 1993, no plebiscito oportunisticamente optou pelo presidencialismo porque o Lula encontrava-se na dianteira das pesquisas para as eleições de 1994. Fez uma desmedida oposição ao Itamar e quase expulsa a Luiza Erundina. A partir de 1998, deixou seus militantes e muitos dirigentes a pregar o “Fora FHC”. E nesse ciclo todo negou a crer que uma feição aliancista seria a melhor alternativa para reconstrução do país mais reformista.

Por mais que ainda tenhamos uma crise real na democracia representativa pós-1985, por cômputo de uma ausência de uma reforma política no país, mas paralelo ao PT, tínhamos na esquerda muitos expoentes, com toda as suas complexidades e antagonismos que pautaram, mesmo nos seus vaivens da ciclotímica das representações das máquinas partidárias, muitas vicissitudes na edificação do Estado de Direito Democrático. Assim tínhamos: esquerda do PMDB, PSDB, PDT, PSB, PCB/PPS e PCdoB e que tinham na condução Mário Covas, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Fernando Henrique Cardoso, Roberto Freire, Pedro Amazonas, etc.

O que alimentava, então, essa pureza petista, caducada numa arrogância política contra a democracia representativa?

Era a sua consiste musculatura de quadros testados no mundo sindical, comunitário, estudantil, religiosos (principalmente da Teologia da Libertação) que misturado num liquidificador político era um partido da opção pela sociedade civil. Ou aquilo que Francisco Weffort quando defendeu os petistas (e quando ainda era do PT) de quadros da democracia social. E é verdade, por conseqüência, e não há como negar, como alguns querem, que o PT substitui o PCB nos movimentos sociais com o fim da ditadura militar.

Se essa aposta se apresentava como uma lógica de crescimento petista, tinha, igualmente, a perda do outro lado. PCB/PPS, por espelho, perdeu essa musculatura de quadros dos movimentos sociais e hoje vive de quadros quase de sua totalidade oriundos do ensejo matricial da democracia representativa e quase nada tem da tarimba política dos movimentos sociais (o que sempre oxigena um partido contra os mandos e desmandos do fisiologismo político). Vieram, por conseguinte, muitos quadros de base conservadora e até mesmo ultra-reacionária. E muitos deles vieram do PFL, PP, PL, PMDB e assim vai. É só observar as bancadas federal e estaduais do PPS e averiguar como é espantoso esse ingresso. Assim é também com PDT, PSB e PSDB. E ontem e hoje, esses partidos, pós-1980, ficaram e ficam na grande maioria de suas ações legitimando esse bilhete de entrada sem verificar que suas bases estão apenas limitadas ao jogo político da democracia representativa e que é atormentado pelas cláusulas de barreiras, coeficiente eleitoral e, especialmente, a concepção privada de mandatos parlamentares sem respeitabilidade ao coletivo partidário. O governador Blairo Maggi, no caso do PPS, é um arquétipo inegável disso tudo.

E é, por isso, paradoxalmente, que numa crise da democracia representativa quem vai se sobressair como melhor desenvoltura são os partidos que historicamente apostaram nessa via. Muitas das vezes apenas nessa via. Isso não quer dizer que esses partidos sejam melhores que o PT, mas eles têm canchas e tirocínios políticos em serem situação e oposição, dentro do marco democrático, em coalizões democráticas. Isso falta enormemente ao PT quando se trata em ser situação. Um exemplo simbólico disso foi a não absorção de imediato no governo Lula, já em 2003, do PMDB e, em contrapartida, o PT teve e ainda tem uma desproporcional bancada de ministério comparativamente aos seus aliados. É a verificação que ser governo para o PT ainda não é, necessariamente, ser aliancista, daí a procedência da infeliz frase do Olívio Dutra.

Em 2002, eu quando ainda era militante do PPS, defendi a aliança do Ciro Gomes com o Antônio Carlos Magalhães porque não via nada demais naquele ato do candidato presidencial do meu ex-partido. Tínhamos um projeto nacional e precisávamos criar governabilidade, logo necessitávamos de alianças. Óbvio! Lembro que na época fui cobrado (ou em muitas outras situações: patrulhado!) por camaradas do PPS e petistas. Eu dizia que tínhamos que governar pela visão societal e quem estivesse a fim de engaja-se, mesmo por outros pretextos, nessa coalizão democrática era sempre bem-vindo. E se viesse ACM e tantas outras figuras conservadoras da política brasileira que seriam também bem recebidas, porque nós deveríamos tratá-los de forma não utilitarista e sim como uma estratégia política permeada por um projeto plural e aliancista. Recordo que o conservador ACM, em 1985, entrou no projeto reformista de agenda de redemocratização deste país ao romper com o governo militar, mas setores do PMDB queriam que Tancredo Neves não aceitasse essa aliança. Tancredo foi sábio e fez aliança e foi ali que eu lembrei daquela célebre frase do imane Lênin: “Só podem recusar as alianças temporárias, mesmo com elementos inseguros, aqueles que não têm confianças em si próprios”. E era nessa possibilidade de projeto de pacto nacional que eu acreditava que Ciro Gomes teria essa segurança para sobrepujar a conjuntura de adversidades numa proposição aliancista de gerar uma concepção estratégica de reformas do estado e cunhar uma governabilidade para unicamente governar. O que é sempre uma tarefa difícil num país que os mandatos parlamentares são maiores que o devir político dos partidos.

Acontece que o afortunado PT chegou ao poder sem essa cultura de conteúdo aliancista e ganhou a eleição presidencial de 20002 pela via da democracia representativa como qualquer outro partido. As suas alianças foram feitas por necessidade e não por conteúdo político e ideológico. E hoje, esse mesmo PT, necessita de apoios políticos daqueles partidos que ele sempre historicamente execrou. O PP de Maluf é um grande exemplar dessa ocorrência. Como não tem cultura e experiência de conteúdo político e ideológico nessa via, trata com arrogância, desprezo e um grandioso hegemonismo (diferentemente da formação da idéia de hegemonia gramsciana) que posterga e atropela os aliados. Ao contrário do que apregoa Lênin, essa arrogância, desprezo e hegemonismo com seus aliados é a prova plena que parte da direção petista e substancialmente seus militantes de base “não têm confianças em si próprios” e, conseqüentemente, tratam seus aliados de forma utilitarista.

Mesmo com essas adversidades, o PT é algo bem-sucedido na história do Brasil, todavia meu mestre Marco Aurélio Nogueira avisa-nos: “o problema é que, como todo empreendimento bem-sucedido, o PT também está obrigado a dialogar consigo próprio e a entrar em contato com temas e desafios que não são originariamente seus e não são facilmente assimiláveis por sua cultura como organização. Entrelaçando-se com o governo passou, por exemplo, a ter de lidar com as taras e tentações do poder, a se ver magnetizado por ele para não deixar enrolar por ele”.
E é inequívoco que o ponto nevrálgico petista reside aí: porque para não deixar de ser enrolado ou magnetizado pelo poder, o PT não optou incessantemente em dialogar como o PSDB. O percurso de diálogo com o PSDB era e é mais extenso e difuso por conta das querelas e das controvérsias de disputa de governo, entretanto seria e é mais duradoura porque o PSDB é um aliado natural e histórico nas ações de ideais e de estado dentro das identidades de esquerda e de matriz social-democrata. Não há comparação entre Tasso Jereissati e Severino Cavalcanti, só que o governo Lula não poderia fazer e faz o mesmo que o governo FHC fez com o PT: isolar um aliado histórico por questões de governo e opta por aliados de apenas envergadura fisiológica.

Falta ao PSDB e ao PT aquilo que o sempre atinado Afonso Arinos celebrava: a magistratura política. O adequado governo de FHC não optou pelo caminho mais longo e foi dominado integramente pelo fisiologismo e assim caminha pela humanidade fisiológica os petistas. É claro que FHC e Lula são homens de esquerda, mas essa opção como centralidade não ajuda pedagogicamente uma magistratura política de cunho lógico e coerente com os seus passados e os preceitos democráticos que tanto a infante democracia brasileira requer. Sei que não é simples ausentar-se das conjunções fisiológicas, mas é apropriado e aconselhável começar a sair paulatinamente desse percurso porque em longo prazo elas aniquilam a democracia.

Neste sentido, por mais que ele esteja fazendo um bom e afiançado governo, o presidente Lula tem que abancar e aprender que o procedimento de governabilidade começa pelo diálogo e que é algo mais implexo e alongado. E começar a conversar com as análises e as reflexões dos aliados e da oposição, entre seus cálculos e as táticas/estratégias, e que isso pode e vai permear e aperfeiçoar a nossa democracia para criarmos uma agenda de Pacto Nacional pelas Reformas do Estado e aumentar o grau de estabilidade da agenda da governabilidade do país. O que permitirá exercer com mais tranquilidade essa forma bastante específica e complexa do poder presidencialista e progredir ainda mais o bom governo que ele já faz.

Como não criou essas agendas diferenciadas, o governo Lula mostrou-se, neste período de dois anos, uma arrogância que freqüentemente não respeitava a oposição no Congresso Nacional e apostou no fisiologismo e adotou uma estratégia próxima de um absolutismo da maioria pela base do fisiologismo. Aí é claro que o governo Lula não contou no Parlamento com a colaboração institucional da oposição para agendar, com celeridade, nem as Reformas do Estado e outros projetos que considerava fundamental. É bem verdade também que não havia uma predisposição da oposição em fazer e buscar um bom senso dialógico pelas causas nacionais, no sentido de criar e furar essa visão isolacionista do governo. O que tivemos foi o aprofundamento da Lei de Newton. E se a cada ação tínhamos reações díspares, quem mais perdia era e é o governo Lula. Se tivéssemos uma disponibilidade para uma agenda do Pacto Nacional em torno de questões decisivas de estado, de modo a criar um clima para uma outra agenda de governabilidade, com bases sociais e políticas de apoio tão alargadas, estaríamos todos nós comemorando ainda mais uma probabilidade de um Brasil com dilatadas condições futuras de desenvolvimento econômico, social e político.

2- O BOM GOVERNO DO LULA.

Agora imaginem se esse governo Lula tivesse uma agenda mínima das Reformas do Estado em conversação pactuada com os aliados e a oposição? Pois é, mesmo não tendo, tem-se um paradoxo nessa história: o governo Lula é de esquerda e faz o melhor governo desde Juscelino Kubitschek.

Começo escrevendo sobre a adequada condução de arrojo da economia brasileira porque o governo Lula deu e continua dando credibilidade econômica ao país. Essa posição válida e ajustada faz com que haja uma sustentabilidade econômica e um equilíbrio das contas públicas e assim o governo apodera-se do crédito da sociedade brasileira e mundial. Isto porque a durabilidade macroeconômica deve ser eficaz e constitutiva. Sem essa durabilidade macroeconômica torna-se hipotético o desenvolvimento em longo prazo e muito menos a inclusão social. Recentemente escrevi que por ser de esquerda, esse governo tem e está tendo responsabilidade histórica com a sociedade. E não podemos ficar à mercê dos populismos, das demagogias e das invenções metafísicas de que podemos mudar a economia com uma varinha de condão. Avalio e sempre avaliei, resgatando o velho Marx, que nosso regime monetário dentro da construção globalizada da economia só pode ser sólido com bons alicerces ou fundamentos. Sem tranqüilidade, por exemplar, com as contas públicas e o regime fiscal, perde-se a capacidade de manejo das taxas de juros. Desse modo, não há política monetária sem esses requisitos porque, por seu turno, ficam continuamente ameaçadas pela possibilidade de saída de capital e a volta da inflação. É claro que todos esses itens também são necessários - embora não totalmente suficientes - para que a estabilidade macroeconômica se desdobre e se reforce com o crescimento econômico sustentado. Assim penso que na impossibilidade de reduzir a taxa básica de juros e a carga fiscal, temos que avançar paralelamente. Digo avançar paralelamente! E não tentar derrubar atual política econômica do Banco Central. Conseqüentemente vejo que tanto o Banco Central, quanto o Pallocci, estão insistindo no possível do adequado e futuramente afiançado, porque é essencial para evitar que o crescimento seja desordenado e comprometa a solidez macroeconômica. Porque não há nada pior para o mundo do trabalho e a população em geral, além da falta de trabalho, do que a inflação. Isso é o bê-á-bá da obviedade econômica. Isto é, quem perde com a inflação são os pobres.

Tanto que hoje, segundo o IBGE, em pouco mais de dois anos foram criados mais de 2,7 milhões de empregos com carteira assinada. Somados os postos de trabalho informal, são 04 milhões de novos empregos. É o melhor desempenho desde 1992, ou seja, a média mensal de geração de empregos já é 12 vezes maior que nos últimos 04 anos do governo anterior. Chegou a 127 mil postos de trabalho por mês nos primeiros quatro meses de 2005, enquanto de 2000 a 2002 foram criados apenas 08 mil empregos por mês em média. Também por conta dessa sustentabilidade econômica o salário-mínimo, no governo Lula, segundo o IBGE, aumentou cerca de 50%, entre 2003 e 2005, o que significa dizer que é um aumento acima da inflação, com ganho real de 12%.

Reitero que nessa sustentabilidade econômica, esse governo Lula, nos últimos dois anos, novamente segundo o IBGE, fez investimentos sociais diretos que aumentaram expressivamente e já correspondem a 14,2% do PIB. Nos dois primeiros anos deste governo foram investidos R$ 463,9 bilhões. Isso corresponde a R$ 119,63 milhões a mais que nos 04 últimos anos do governo passado. Ressalto que entre março de 2004 e fevereiro de 2005 as exportações brasileiras ultrapassaram a marca dos US$ 100 bilhões, um recorde histórico para o país que gera hoje mais renda e empregos. Ou seja, com essas medidas de sustentabilidade econômicas prepararam o Brasil para o maior crescimento ordenado dos últimos 30 anos.

Ora, com a interligação da possibilidade de um crescimento econômico sustentável, o governo Lula tem apostado em políticas compensatórias de grande valia numa sociedade que historicamente o Estado foi privatizado pelas elites. Hoje posso dizer que o governo Lula vem melhorando substancialmente os programas sociais já existentes no governo FHC e criando novos. Julgo até que mudaram para melhor e mostra a opção clara do governo Lula pela cidadania do mais pobres e excluídos. Lembro que a política compensatória não resolve os grandes problemas nacionais, mas ele ajuda quem precisa de forma emergencial, ao mesmo tempo em que dá condições para melhorar a vida das pessoas com programas inovadores, em maior escala e voltado principalmente para aqueles que mais necessitam.

Vou citar apenas 05 áreas. Digo apenas essas 05 áreas para não gerar muito vexame ao bom governo de FHC.

Primeira. Vejamos na área da educação. Em 2003, o governo Lula criou um programa belíssimo: Brasil Alfabetizado, que já tem investimentos na ordem R$ 807 milhões destinados à Educação de Jovens e Adultos. São R$ 316 milhões a mais numa comparação com o governo do FHC, que gastou apenas R$ 491 milhões nos dois últimos anos. Outro dado impressionante é que o governo Lula contabilizou apenas em 2004 com o atendimento de mais de 1,8 milhão de estudantes em 2.089 municípios, enquanto que no período FHC atendeu 1,2 milhão de pessoas em 1.772 municípios em 08 anos de governo. Além de criar prodigioso FUNDEB, na comparação com o FUNDEF, o governo Lula ganha de goleada porque, entre 2003 e 2005, teve um crescimento real de 20,1% e já agora em 2005, os recursos destinados ao FUNDEF tiveram aumento de 9,9%, em compensação, durante o governo FHC, houve uma queda de 2% entre 1997 e 2002. Sistema público de ensino superior federal incorpora em média 122 mil novos alunos a cada ano. O governo Lula, em apenas um ano, incorporou para além deste número, 120 mil novas vagas, sendo 70% delas inteiramente gratuitas e 30% de bolsas parciais para atender a população de baixa renda.

Segunda. Na área da saúde o que impressiona são os números. Vejamos. Em 2 anos de governo Lula ganha dos últimos 05 anos do governo FHC em relação aos recursos destinados à atenção básica na saúde: R$ 3,15 bilhões entre 1998 e 2002, contra R$ 3,65 bilhões em 2003 e 2004. Outro dado que eu retirei do site do Ministério da Saúde: “Em 2002, os investimentos isolados do governo FHC em saúde bucal foram de R$ 56,5 milhões. No primeiro ano do governo Lula os recursos foram ampliados para R$ 84,5 milhões e em 2004 o repasse ultrapassou os R$ 132 milhões”. Além do mais, o governo Lula majorou em 44% os recursos para o fornecimento de remédios gratuitos para a população brasileira. Isso equivale a 123% comparativamente ao governo FHC.Em 2002, no governo FHC, foram destinados R$ 2,4 bilhões, no primeiro ano de gestão petista os recursos foram de R$ 2,8 bilhões e, em 2004, o repasse chegou a R$ 3,5 bilhões. Além do mais, o governo Lula tem investido em saúde preventiva de forma mais planejada em relação ao governo anterior.

Terceira. Outra área que Lula ganha de goleada de FHC é no saneamento básico. Com os números na mão, observa-se que é desmedida a comparação. A esfera das rubricas de saneamento básico recebeu verbas totais de R$ 5,1 bilhões entre 2003 e 2004, um pulo de 112% em relação aos gastos do governo anterior no biênio 2001/2002. Convenhamos, é goleada de 10 a 0, no mínimo. Eu lembro que nesse quesito, tem-se um aditivo ainda favorável ao governo Lula: cada real investido em saneamento representa uma economia de R$ 04 reais com os gastos em saúde, de acordo com OMS.

Quarta. Na habitação, o governo Lula cria uma forma operacional sincronizada com instituições financeiras ainda não vista neste país. Por isso que já investiu R$ 11 bilhões em moradia, beneficiando 690 mil famílias. Segundo a Caixa Econômica Federal a média anual de investimento é 28% superior à do governo anterior. Novamente goleada. E só em 2004 cresceu 5,7% e gerou 51 mil novos empregos diretos e formais.

Quinta. Com a possibilidade de um crescimento econômico sustentável, uma outra área que ganha de goleada em relação ao governo anterior é a da agricultura. Nunca vi um governo investir tanto na agricultura de forma quantitativa e qualitativa como esse do governo Lula. Os números são impressionantes. Na agricultura familiar temos um recorde: 7,1 bilhões reais. O investimento do PRONAF em 2004 foi de R$ 5,6 bilhões, beneficiando 1,57 milhão de famílias. Este montante é 47% superior a 2003 e 133% maior do que em 2002. No sentido qualitativo, pela primeira vez vejo um ministro da agricultura pensar no que vai projetar em 30 anos em agricultura familiar, sem com isso abandonar magnitude do agronegócio (que colecionou recordes no último ano, com exportações de US$ 39 bilhões, ou 57% acima dos resultados de 2002).

Lembro aqui faltou ainda citar a Bolsa Família: que nós não podemos deixar de relevar que já são atendidas 6,7 milhões de famílias e hoje se encontra em 99,5% das cidades brasileiras. Faltou citar universalização do acesso à energia elétrica no país através do programa Luz para Todos, que levará eletricidade para 12 milhões de brasileiros até 2008. Faltou citar Um dos maiores projetos de desenvolvimento deste país que é a integração do rio São Francisco que vai atender 12 milhões de habitantes do Polígono da Seca e que desfrutarão de água potável para consumo, pecuária e irrigação, além do projeto ser ambientalmente ser correto. Faltou citar que eu nunca vi um governo atuar tanto contra corrupção como esse governo Lula. A ação ativa e inalterável contra a corrupção e a austeridade no domínio dos gastos públicos são duas marcas efetivas desse governo, pois lembro que desde o começo do governo, os órgãos de fiscalização e mando vêm atuando de feitio articulado, tornando mais essencial e competente a precaução e o combate à corrupção, porque nunca vi um governo fazer tantas operações conjuntas em forças-tarefa, empenhando órgãos como a CGU, Polícia Federal, Ministérios Públicos da União e dos Estados, INSS e com implicações muito positivas na luta às falcatruas e na repreensão de seus autores. Faltou citar ainda que de forma planejada o governo Lula já se lança e se incrementa nas Parcerias Público-Privadas mirando as confluências com empreendedores privados pautadas, sobretudo, nas infra-estruturas para corredores de exportação e que futuramente eliminaram gargalos logísticos.

3-GOVERNO LULA E A SAÍDA POLÍTICA

Um dos efeitos imediatos constatados nos primeiros dias da crise gerada pelas denúncias de corrupção foi a oscilação dos indicadores do mercado, com a queda dos índices da Bovespa, valorização do dólar e elevação do risco-país. Essa reação instantânea, claro que previsível, dado o funcionamento desses mercados sensíveis, deixa entrever o potencial de riscos que a instabilidade política carrega. É dever do governo e da oposição impedir que os efeitos de uma situação política conturbada se estendam negativamente a outros setores da sociedade, em especial à economia. Neste momento o que é importante para nossa sociedade é o que eu chamaria de governabilidade societal. Nela teríamos uma proposta de Pacto Nacional de governabilidade diante da premência das agendas de Estado e de Governo.

Um exemplo é a reforma política. Este é o momento. Ela deveria fazer parte da Agenda de Estado, como as outras reformas do estado: tributária, da previdência, trabalhista, etc... O governo Lula com sua magistratura política, proveniente da sua autoridade das urnas, deveria começar logo com o ponta pé inicial ao buscar aliados de tudo que é lado e de cores ideológicas.

Urge, assim, governo e oposição, procurar consensos amplos no parlamento para que algumas das áreas mais sensíveis do governo dessem ao país mais sinais de mobilização para responder as difíceis exigências conjunturais e estruturais da atual crise de governabilidade. Especialmente quando estão em causa valores fundamentais como os do respeito pela Constituição, pelas normas democráticas e a estabilidade econômica. Como o presidente Lula é o chefe do executivo desta Nação deveria criar um ambiente de diálogo, pois esse é o mais apropriado momento que o PT e o PSDB, entre outros e principais atores, poderiam e deveriam sentar pra começar conversar sem rancores e fazer uma monumental agenda política para o país.

Eis a boa saída para crise de governabilidade que se avizinha.

Eduardo Lauande.
[1] Na confecção deste texto visitei 15 sites do governo federal.

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