21 de maio de 2007

A Demência do terrorismo

(26 de julho de 2005 -Publicado na Lista Democracia)

Caros amigos,

1-Sou de um tempo em que os comunistas pregavam a paz como bandeira internacional e por isso tenho, mais do que nunca, a convicção que a própria paz e a democracia são os melhores caminhos para condição humana. São patrimônios universais!.

2-Escrevo isto ainda porque estou estarrecido com a afirmação que li ontem na Folha de São Paulo do comissário-chefe da Polícia de Londres, Ian Blair, de que a Grã-Bretanha vai manter a política do "atirar para matar", como ocorreu com o brasileiro Jean Charles de Menezes, morto ao ser confundido com um terrorista, é ao mesmo tempo chocante e atemorizadora.

3-Um absurdo essa declaração!!!

4-Penso que de um lado, era inevitável que as duas investidas do terrorismo registradas só neste mês na capital britânica levariam ao recrudescimento da repressão. De outro, me preocupa que alguém possa se tornar suspeito simplesmente pela sua condição de estrangeiro, correndo o risco até mesmo de morrer por isso, como foi o caso do brasileiro.

5- Fiquei mais pasmo como justificou a autoridade policial inglesa, em circunstâncias ainda obscuras como as que levaram o brasileiro a levar oito tiros: "não faz sentido atirar no peito, porque é lá que vai estar a bomba". Ou seja, pelo raciocínio dele o único jeito seria "atirar na cabeça".

6-Fiquei triste, muito triste, com essa declaração porque não ajuda o processo de construção democrática e de paz da condição humana.

7-Julgo que essa alternativa, chocante para defensores dos direitos humanos e particularmente para brasileiros impressionados com o fim trágico do jovem que foi tentar uma oportunidade no Exterior, não é vista como inevitável apenas no meio oficial. Li que até mesmo o influente jornal The Times advertiu em editorial que, infelizmente, "a política de atirar para matar é, agora, inevitável". O periódico admite que a comunidade está certa em cobrar explicações da polícia pela morte. No trato com extremistas suicidas, porém, o periódico sugere erroneamente que "os procedimentos normais não se aplicam nesses caso", o que constitui motivos para preocupações particularmente entre nós estrangeiros.

8-Aí vejo que ao se valer da irracionalidade de qualquer ordem para instalar o medo e dizimar inocentes, o terrorismo se encarrega também de dar margem a contra-reações que acabam gerando outras vítimas em potencial.

9-Li ontem no jornal O Liberal (Belém/Pa) que só em Londres, há no mínimo 100 mil brasileiros em busca de uma oportunidade de estudo ou de trabalho, muitos deles na ilegalidade. Assim como ocorreu nos Estados Unidos, o ingresso e a permanência de imigrantes tendem a ser cada vez mais dificultados na Grã-Bretanha a partir de agora.

10-Mas não teve jeito e eu tiro uma conclusão: o Brasil, mesmo sem qualquer ligação com o terrorismo, transformou-se em vítima dessas restrições de forma trágica.

11-Concluo, caros amigos, que é deplorável que, diante das facilidades de aproximação entre os povos geradas pelos avanços da tecnologia, o mundo tenda a se mostrar cada vez mais compartimentado por conta da insanidade do terrorismo e acredito que a humanidade precisa encontrar formas de lutar contra o terrorismo com o mínimo de prejuízos à liberdade e a outros direitos fundamentais conquistados tão arduamente pela condição humana.

Aquele abraço,
Lauande.

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