21 de maio de 2007

A Revista Veja e o Palocci

(21 de novembro de 2005 - Publicado na Lista Democracia)


Caros amigos,

1-Eu leio a Revista Veja. Desde adolescente. E talvez por isso nunca fui daqueles de excluir o desempenho da Editora Abril Cultural na história deste país. Assim também foi e é o Jornal “Estado de São Paulo” no mesmo naipe de relevo na minha vida de leitor. Tanto que faço questão de dizer que leio os editoriais do “Estadão”.

2-Eu sei que tanto a Revista Veja quanto o Estadão nunca foram paradigmas de algum apotegma de esquerda. Nunca foram. Mas eu os leio porque julgo imperioso entendê-los. E sem patrulhá-los! Aprendi isso com o sábio Karl Marx. É que Eric Hobsbawn avisa-nos que Marx leu e debateu com mais 500 autores de todas correntes políticas pra elaborar o seu grande livro O CAPITAL. Principalmente, os conservadores.

3-Nesta vertente, eu leio a Revista Veja porque também não trato as minhas visões com os maniqueísmos reacionários do tipo “me dizes com que andas, eu te direi que és”. A Revista Veja tem lá suas claudicações crassas e às vezes até parte para posições antidemocráticas. O Estadão do mesmo modo. Mas, no todo de suas histórias, eles têm uma contribuição respeitável para o jornalismo e a democracia brasileira.

4-Não parto da idéia igualmente como quer certos setores da esquerda brasileira de execrar a Revista Veja porque hoje ela tenta e faz um massacre ao PT. Ora, ora, nunca tive e nem tenho utopia que a Revista Veja foi ou é um utensílio democrático de perspectiva da construção libertária de todas vozes deste país. Como também, não gosto da idéia que jornalismo bom: é aquele que diz o que eu quero ou que eu venha gostar.

5-Feito este meu reparo, eu ontem pude constatar que na última edição da Revista Veja há um editorial interessante sobre o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Inclusive, na defesa do Palocci.

6-Eu concordo com a Veja que o Palocci, em audiência especial da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na semana passada, serviu para restabelecer a confiança e a credibilidade do ministro perante a Nação, ameaçadas com as notícias em torno de irregularidades na Prefeitura de Ribeirão Preto.

7-Depois do bombardeio que o ministro recebeu da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e de um enigmático silêncio do presidente Lula, a posição do ministro ficou mais do que vulnerável. Para muitos, o ministro "já teria caído".
8-Apesar da explícita tentativa do PFL e do PSDB de esvaziar a audiência, rejeitando qualquer tipo de pergunta sobre as denúncias contra a gestão de Palocci quando prefeito de Ribeirão Preto, o depoimento do ministro e, depois, a sabatina a que foi submetido, que durou cerca de dez horas, só terminando na madrugada, serviu para dirimir dúvidas e questionamentos.

9-O desempenho foi tão convincente e tranqüilo, que o próprio mercado financeiro não sofreu qualquer tipo de oscilação. Pelo contrário, o dólar manteve sua tendência de queda, enquanto a Bolsa de Valores fechava com leve alta. Mais uma demonstração da estabilidade da economia.
10-Negando as denúncias de corrupção e afastando qualquer hipótese de dinheiro irregular de Cuba na campanha de 2002, o ministro, contudo, foi firme e seguro nas explicações sobre as irregularidades na Prefeitura de Ribeirão Preto, demonstrando que se tratam de denúncias com objetivos políticos.

11-Na longa fala sobre os fundamentos da economia, Palocci também demonstrou que a política que vem sendo seguida é a melhor para o país.

12-E é mesmo!
13-A antecipação da audiência na Comissão de Assuntos Econômicos, também questionada pela oposição, foi, afinal, uma decisão acertada. Impediu que especulações no mercado financeiro adquirissem maior dimensão, ao mesmo tempo em que esvaziou a crise política decorrente do "fogo amigo" de Dilma Rousseff.
14-Palocci, portanto, entrou ministro e saiu ministro, ao contrário do que muitos especularam e deu por encerrado mais um episódio de desestabilização do governo, desta vez com a participação de membro importante do próprio governo.

15-Na verdade, um dos grandes avalistas do governo Lula tem sido o ministro Palocci, que manteve uma política econômica firme, em busca da estabilidade e da preservação da moeda para tenhamos no futuro um crescimento que envolva o mundo trabalho, o que não acontece há mais de 40 anos.

16-Até porque o ministro da Fazenda vem possibilitando a retomada do crescimento, com saldos históricos na balança comercial e, principalmente, com o cumprimento de metas de inflação e a manutenção de uma política severa de controle de preços e um crescimento econômico sustentável que favorece, principalmente, como já disse, o mundo do trabalho.

17-Isto talvez corrobore na minha tese que eu e a Revista Veja tenhamos algumas unidades em pensamento, mesmo que diminutas, porém temos. Se eu fizesse uma execração contra a Revista Veja, não poderia ler um belíssimo editorial de defesa à política econômica do governo Lula.

18- E assim, ao contrário do Nelson Rodrigues que dizia que “dez coisas, a esquerda se desune por uma e a direita se une apenas por uma”, eu parto a minha vida pessoal, política e acadêmica pela unidade societária, mesmo na argentária divergência e diferença no interior da condição humana.

19-E isso faz um bem danado porque comprova que temos sempre, sempre mesmo!, que conversar e interagir e o que torna um patrimônio pra quem quer construir o comunismo.

Aquele abraço,
Lauande.

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